Começou também com uma história verídica, coisa que é raro eu ler. Desde o momento que uma história é baseada em factos verídicos eu já não a consigo apreciar da mesma forma. São vários os motivos, mas o principal é que eu visualizo tudo o que estou a ler como se estivesse a acontecer em tempo real à minha frente e as emoções começam a sufocar-me.
Este livro traz de volta um acontecimento de 2006, que ocorreu na cidade Invicta e que chocou a maioria das pessoas. Nessa altura eu era "apenas" uma adolescente de 14 anos e não tinha qualquer interesse em notícias, nem sequer as via. Hoje, depois de ler este livro e de calcular a idade que tinha, chego à conclusão que tenho a mesma faixa etária e que não podia estar em tão distante realidade.
É uma história contada na voz de uma criança de 12 anos e esta criança tem um papel intenso e desorganizado, provavelmente desenvolvido pela ausência dos pais, tendo sido deixada numa instituição chamada Oficina, onde a criação ou educação são menosprezados e insuficientes.
Considero que o desfecho desta história se deve à falta desse acompanhamento e consequente ausência de amor paternal e uma decisão estúpida de um miúdo que queria mostrar-se como alguém forte e superior.
Também a vida da Gi foi retratada e dá para entender que foi uma vida sofrida, sem quaisquer facilidades. Jamais eu conseguiria encontrar felicidade naquilo que ela considerou vida.
Ambas as personagens sentiam falta de atenção, eram submissos e tinham uma necessidade de afirmação.
Gostar deste livro não me soa bem. Não gosto da história pelo que ela retrata, não há como gostar, choca-me ainda mais que seja escrito pela "mão da criança" e isso é demonstrado na qualidade da escrita, que torna visível a criança por detrás das páginas.
Mas não posso deixar de o considerar um bom livro. É visual, sem ultrapassar todas as sensibilidades. Diz muito sem ter tudo detalhado.
É doloroso.
É real e, ao mesmo tempo, assustador.
Mais alguém que tenha lido este livro? Deixem nos comentários a vossa opinião.