10 de março de 2025

Pagar-me para ler, isto "agora" é assim?


Parece um conceito interessante a que muitos leitores, que partilham as suas experiências e leituras, estão a aderir, com a justificação de benefícios extra para as suas vidas literárias. Tais como:

- Serem recompensados por ler;

- Diminuir as suas TBR (mais conhecida por Terror Bruto nas Robustas estantes) ;

- Comprar mais livros "sem retirar dinheiro do seu orçamento familiar.

Além de todos estes benefícios, ainda podemos incluir regras, não bastaria só guardar uma moedas por cada livro lido. Há este modelo efetivamente, mas há muitos outros. Uma das últimas regras que ouvi é atribuir um valor superior a um livro que esteja na maldita estante há mais de x anos, enquanto que um querido que tenha acabado de vir para casa vale muito menos (em questões de auto pagamento, é claro, até porque hoje em dia os livros estão pelo preço da morte).

Pensei bastante sobre isto, é óbvio. E acrescento que apesar da ponderação, não cheguei a pôr em prática esta modalidade, mas garanto que comigo não iria funcionar.

Primeiro, porque tudo o que envolva um benefício pressupõe uma obrigação e eu não gosto de ver a leitura como obrigação, até porque isso tira a magia associada. 

Em segundo porque acredito verdadeiramente que quem lê e tem o trabalho de postar isso diariamente nas suas redes, leia porque gosta e então receber auto dinheiro por isso não faz sentido. É errado fazê-lo? Epah, não, mas também não traz nada de extraordinário em retorno.

Por fim, considero que estes auto pagamentos fazem mais sentido em atividades que, apesar de nos fazerem bem ou das quais só gostamos q.b., queremos fazê-las e, no meu caso, isso APLICA-SE, por exemplo, ao ginásio. Eu até gosto e, quando lá vou, vibro com aquilo e dedico-me ao meu objetivo, o problema é conseguir arrastar-me para lá. Talvez para outras pessoas o auto pagamento do ginásio faz tanto sentido como para mim o da leitura, mas a verdade é que este incentivo é um acrescento a algo que não fazemos com a fluidez ou com frequencia que queremos ou acreditamos ser necessária.

Acredito assim que, a verdadeira razão para esta prática seja o "bloqueio literário", que se resume na dificuldade de escolher a próxima leitura ou de apreciar qualquer uma que se inicie no entretanto, e que provavelmente atinge 100 em cada 100 leitores, pelo menos uma vez na vida. Eu também já os tive e tenho a dizer que encontro a minha paz na certeza de que não estou sozinha. É normal e na maioria dos casos acontece porque encontrámos uma leitura que nos arrebatou, impedindo-nos de seguir em frente. Mas isto é passageiro, vai voltar o dia em que pegar num livro e lê-lo vai ser natural e vamos apreciá-lo mais, na minha opinião, do que se nos tivessemos auto reembolsado para o ler sem vontade.

Talvez a solução passe por saborear a leitura que, por algum motivo, ainda não nos abandonou e, no entretanto, fazer algo de diferente, algo que realmente nos apetece fazer naquele momento. 


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